domingo, 19 de novembro de 2017

Torrente de Quimera

O ruim da paranóia é que às vezes é verdade. Ou melhor, quase sempre é.  No meu caso muitas vezes. A intuição não falha, se bem que às vezes falha um pouco. Mas dane-se, ele não me ama. E eu não amo ele porque ele não vem me amar. Eles dizem: vai chorar? E eu digo: já chorei. Chorei mas não era por ele. Chorei mas não era por ninguém. Talvez um pouco por mim. Mas ah, já muito chorei sem motivo e motivo hoje, pra mim é coisa de louco. E louco, que bobo, é tão normal. Logo temos muitos motivos mas na hora do choro às vezes não sei dar nome aos bois. Na minha terra boi nem nome tem. Tem preço no pacote de carne e só. É. Triste. Mas o mundo é assim sádico. Assim trágico. Engasgado. Apressado. Tal qual essas palavras. Cuspidas nos caracteres e perdidas na imensidão de liberdades feitas no papel. E às vezes tem mais cacofonia que poesia. C'est la vie. C'est la vie. Parece droga misturada com palavras, parece vinho derramado. Mas parece uma dança da alma, parece café na língua. E chega. Doces palavras cuspidas e coisas não vividas. E explosão, diria Clarice. Explosão! Digo eu. Na noite, com a chuva vagarosa lá fora, me declaro com um poema e ele nem ligou. Explosão!  Outro cara fala comigo e me diz que é inconstante, como se aquário fosse mais inconstante que gêmeos. Mas e se for? E se signos sempre foram bobagem? Esses dias disseram que sou de touro por causa desse serpentário. Mas prefiro a dualidade aos chifres. Explosão! Pior que sou tão sincera e inconsequente, vivo tudo intensamente e não me canso fácil do que aprecio. Talvez seja mesmo touro. Mas e aquele leão? Maquiada e sorrindo pro espelho.Egocêntrica. Mas não fosse estaria mais  depressiva  que sou. Explosive. Tem a lua em virgem, perfeccionismo do caralho. E quero beijos. Mas por favor, me morda. Mas ah.. Deixa o mapa astral. Vem se perder no infinito. Comigo. É tão bom beijar abdômens. Sentar no seu colo, enlaçar minhas pernas nas tuas costas e te beijar. Ah. Ah. Explosão!  Queria estar assim agora. Você queria?  Me chamaram de louca esses dias. Eu disse sim, com orgulho. E cantei Vinicius de Moraes. Porque dele não me cansei, mas da vida já. E eu já perdi tardes e foi as que mais me foram como ganho. Tomando sorvete e vagando com alguém. Entendendo o quê do humano que o torna único e intenso. Sinto que a vida é mesmo uma bolinha de lã de um gato. Mas se enlaçar a alguém é satisfatório. Me faz até me sentir importante. Ombros largos fazem isso comigo: acabo no interior de braços levantando-lhe a camiseta. Borbulho. Incendeio.

- Marie Soffiati, 19/11/2017

Anotações:
Torrente: avalanche
Quimera: devaneio

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